quinta-feira, 31 de outubro de 2013

RESENHA: “Isso é tão Pearl Jam”

Pearl Jam Lightning Bolt (2013) 
 por Marcello Zalivi

“Isso é tão Pearl Jam” 

Ao ouvir a primeira faixa de “Lightning Bolt”, a sensação de “já ouvi isso antes” é tão forte que eu diria que o mais novo álbum de estúdio da banda abre precedentes para um novo dito popular. É impossível não afirmar ao fim da audição que este álbum é tão Pearl Jam quanto “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. 

Não me entendam mal, não estou levando a crítica para um lado pejorativo, até porque, o que eu disse no ótimo “13” do Black Sabbath se aplica também aos não tão mais garotos de Seattle. “Lightning Bolt” é bom, mas nada além disso. É o mesmo Pearl Jam de sempre, com mais uma peça que se encaixa perfeitamente no quebra cabeças da carreira do grupo. Todas as faixas se parecem deliciosamente com algo que já foi feito pela banda. Ativa aquela memória afetiva, aguça nosso saudosismo. Seria uma receita? Uma fórmula? Seja lá o que for, é o bom, honesto e competente rock de Vedder e sua trupe.

A trinca inicial é uma das melhores do ano com a noventista “Gateway”, passando pelo punk-rock meio Dead Kennedys de “Mind your Manners” e finalizando na ótima “My father’s Son”, que conta com a melhor performance de toda a banda, do baixo marcante ao vocal.

Após esta excelente sequência, a aposta é em uma linha mais melódica e em alguns momentos ousada e introspectiva. “Sirens”, uma das muitas contribuições do guitarrista Mike McCready (que praticamente assume o papel de compositor principal ao lado de Vedder neste projeto), é a balada ponto alto, presença garantida em qualquer apresentação acústica da banda. Em seguida, a faixa título “Lightning Bolt” joga o clima para cima com mais um vocal impecável e uma bateria vigorosa de Matt Cameron.

O Pearl Jam começa a mostrar seu lado mais experimental (e pessoal) com as ótimas “Infallible” e “Pendulum”, contribuições de Ament e Gossard, que arrastam um pouco o andamento do álbum, mas escancararam um lado mais sofisticado e sombrio do grupo, extraindo ao máximo a sua essência, para, em seguida cometer sua primeira derrapada em “Swallowed Whole”, uma canção que parece meio perdida no contexto. Não chega a ser ruim, mas é irrelevante.

Já a blueseira “Let the Records Play” é candidata a melhor faixa, o que eleva não apenas as expectativas para o desfecho, mas ratifica a boa impressão causada pelo projeto. Mas como nem tudo são flores, outra derrapada na regravação de “Sleeping By Myself”, uma das grandes faixas da fase Ukulele de Vedder, que ganha uma roupagem “moderninha” e acaba perdendo o brilho. Dispensável.

Em “Yellow Moon” eles carimbam o “isso é tão Pearl Jam” tentando recriar aquele desfecho estilo “Immortality” do Vitalogy, mas é claro que sem a mesma força da segunda, e acaba por dar aquela “brochadinha” já clássica das velhas bandas que adotaram a baladinha “apaga a luz e coloca o pijama” como é “Future Days”, no encerramento. Tudo bem que ninguém esperava um soco no estômago com o andamento da coisa toda, mas em se tratando dessa turma, a gente fica sempre na expectativa.

Como disse, Lightning Bolt é mais uma pecinha recheada de riffs e estrofes marcantes, com momentos potentes, alguns solos memoráveis e aqueles finais de canções épicos que a banda costuma jogar para a plateia.

Tudo soa muito atemporal, muito familiar, é tudo muito Pearl Jam.

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